Uma das primeiras missões que o
mestre Bálsamo recebeu no Vale foi o comando da Estrela Candente, ainda em um
tempo que a luz para a terceira Consagração era à base de lampião a gás, e para
completar o grupo mínimo de quatorze pares, era necessário ir de porta em porta
procurando médiuns de boa vontade para participar.
Era agosto de 1976... Naquela manhã
ele despertou “inexplicavelmente” mais cedo que o normal. Sete e meia da
“madrugada” (no Vale, na época de Tia, este horário, em função dos famosos
“corujões”, era muito cedo mesmo!), ele já estava a caminho da Casa Grande para
buscar a bolsa com a Lei da Estrela, recém-ditada por Vovô Indú.
Pensava em “pegar” a bolsa sozinho,
e ir tranqüilo para a Estrela pensar um pouco na vida.
Porém ao chegar, uma das mocinhas do
Orfanato já estava na porta e foi dizendo:
- A Tia já está na Estrela lhe
esperando!
Pensou: “Vixi”... A Tia na Estrela a esta hora?
Chegando lá entendeu por que...
A “chefe” (ele gostava de contar
sempre chamando a Tia de “a chefe”) estava com as mãos na cintura, bem no meio
da Estrela com “aquele olhar”... Distante, penetrante, com um silêncio
profundo.
Imediatamente percebeu o quê se
passava: No piso da Estrela estava uma “macumba das grandes”. Tinha de tudo!
Farofa, vela, charuto, bonequinhas de vodu, tesouras, fitas, bebidas... Tudo
colocado lá dentro da Estrela!
Conta que parou ao lado de Tia e
esperou que ela se manifestasse após algum tempo ainda em silêncio:
- Bálsamo! Tiãozinho está pedindo
para que você tenha muito carinho com o comando da Estrela de hoje. Também pede
para que avise que não devem usar sal e perfume na primeira consagração,
colocaram umas “coisas” lá. Já pedi para as meninas virem limpar tudo, e depois
da primeira consagração já vai estar tudo desimpregnado.
Falou assim... De forma firme e
segura. Com uma naturalidade que somente a mediunidade dela poderia transmitir.
Ninguém, exceto as meninas que
fizeram a limpeza, ou alguma pessoa mais próxima de Tia, ficou sabendo do
ocorrido antes, ou durante as consagrações, que foram executadas seguindo a
recomendação de Tiãozinho.
Após as três consagrações, desceram
todos para o Templo e Tia aguardava junto ao Radar. Pediu para que as Entidades
nos Tronos desincorporassem, e após todos acomodados, com os Aparás de pé,
iniciou as Invocações. Terminou pedindo a presença do Povo de Cachoeiras e das
Serias de Yemanjá. Nesse momento ela mesma iniciou o Mantra das Ninfas.
A emoção contagiou a todos, era algo
inédito aquele trabalho!
Ao terminar o Mantra, com lágrimas
nos olhos e a voz embargada, Tia Neiva pediu aos Médiuns de Incorporação que
desincorporassem. Os Aparás, também, tinham lágrimas nos olhos.
“Todos estavam em estado de êxtase;
amparados pela magia, encantos... Meu Deus, como traduzir... !?” (Bálsamo)
Então pediu que todos em conjunto
emitissem o Mantra de Simiromba, e, ao final, pedindo total sintonia, dirigiu
três Elevações em conjunto.
Tomada pela emoção do momento,
lutando para manter a razão face a grandiosidade que se operara, ela falou:
- Meus filhos, pelos olhos que
entreguei a Jesus a bem da verdade, trezentos exús voltaram para Deus. Salve
Deus, meus filhos, graças a Deus!
Após essa realização, este trabalho
ganhou forma definitiva e foi entregue para ser conduzido pelo Trino Araken.
Mais um fato interessante se passou
algum tempo depois, ainda referente a esta história:
Em uma aula de Centúria, Tia Neiva e
seu Mário (Trino Tumuchy), estavam presentes, acompanhando o Trino Araken. Em
determinado momento ela contou a história dizendo que o líder da legião tinha
por objetivo destruir a Estrela. Assim, enviou todo o seu povo para lá, mas
“macaco velho” que era, ficou de fora e acabou escapando. Quando deu por si que
tinha perdido todos seus componentes, virou sua ira contra o “pai de santo” que
foi preparar a macumba. Contou então, que o tal “pai de santo” só teve um jeito
de escapar da terrível cobrança: entrou para a Doutrina do Vale do Amanhecer.
- Ah... De jeito nenhum! Se eu contar vocês derretem ele na vibração!
Todos deram um alegre riso.
Salve Deus!
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